quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Feliz no Figueirense, Caio revela mágoa com a torcida do Botafogo


Atacante explica o ressentimento em relação aos botafoguenses e fala sobre os rótulos que recebeu no Rio de 'talimã' e 'cai-cai': 'bobagem e injusto'


Aos 22 anos, Caio está mais maduro para saber que cada escolha traz uma consequência. Ao deixar o Botafogo e acertar com o Figueirense, por empréstimo, no começo do Brasileirão, o atacante tinha em mente que deixaria para trás o Rio de Janeiro e teria que lutar por novas oportunidades em Santa Catarina. O passado no Botafogo, apesar das importantes aparições que lhe renderam a alcunha de 'talismã', ficou para trás com uma certa mágoa.


Três meses depois de deixar o Alvinegro carioca, onde vivia uma relação de amor e ódio com a torcida, Caio se sente satisfeito com a escolha que fez. No Figueirense, depois da estreia com gol, o atacante se tornou o artilheiro da equipe no Brasileirão, titular absoluto e conquistou aquilo que sempre quis ter no Botafogo: uma sequência de partidas.

Desde que estreou na primeira rodada, Caio atuou em todos os jogos. E um número chama a atenção: é o jogador que mais sofre falta no campeonato: foram 64, até a 19ª rodada — Renê Júnior, da Ponte Preta, com 56, e Ananias, da Portuguesa, com 53 seguem a lista dos mais caçados em campo. Fato que dá consistência para Caio dizer que faltou paciência por parte da torcida do Bota.
Esse rótulo é bobeira. Não existe jogador de segundo tempo, isso acabou virando uma regra."— No Botafogo eu fui marcado por ser um jogador 'cai-cai' e os números só mostram o contrário. Eu sofro muitas faltas, pois sou um jogador que busca o jogo. Aqui em Santa Catarina não tenho esse problema, a torcida me respeita muito mais. Penso que faltou um pouco de respeito comigo lá no Botafogo. Tem gente que nunca jogou futebol na vida e fica falando, e isso atrapalha o jogador, vira um rótulo — diz o atacante.

No entanto, se sabe das consequências que cada escolha proporciona, Caio encara a realidade do Figueirense. Lanterna da Série A, com 14 pontos ganhos, o clube luta para deixar a zona de rebaixamento e sair de uma crise política que envolve integrantes da diretoria e membros da principal parceira. 

A mudança do Rio de Janeiro para Florianópolis faz com que o jovem jogador de futebol saiba melhor o seu papel dentro e fora de campo. Pela primeira vez, o atacante vive a experiência de morar sozinho. E o local escolhido, a Ilha da Magia, com suas lendas e folclores, pode trazer inspirações para reverter o atual cenário negro do Figueira — desde 2006, quando o campeonato passou a ser disputado por 20 clubes, nunca o lanterna evitou o rebaixamento.
No Botafogo você era o 'talismã', pois costumava entrar no decorrer  dos jogos e fazer os gols da vitória. Isso de certa forma te atrapalhou na carreira?Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, o jogador explica o ressentimento em relação à torcida do clube carioca, fala sobre o momento pessoal que vive, sobre o clube e também a relação que tem com o uruguaio Loco Abreu.

GLOBOESPORTE.COM - Você é o jogador que mais sofre faltas no campeonato, de alguma forma isso acaba com a fama de 'cai-cai' que você levou no Botafogo?
— Eu sou um jogador muito agudo, que parte para cima e busca os gols. É normal que eu sofra bastante faltas. Só que na época em que eu estava no Botafogo, faltou um pouco de respeito comigo por parte da torcida. Contra fatos não há argumentos, 'cai-cai' é aquele jogador que se joga. Tem pessoas no futebol que não tem o que falar, que nunca jogaram futebol, e criticam o jogador. Só que isso pega, vira um rótulo e ai complica a carreira de um jogador.

Você está satisfeito com a mudança para o Figueirense? Você encontrou o seu futebol em Florianópolis?
— Olha, todo mundo está me elogiando, meus colegas e a torcida. Isso é está acontecendo por um motivo: sequência de jogos. No Botafogo, dificilmente eu joguei duas partidas seguidas. E aqui, independente da situação, eu estou mostrando o meu futebol. Sou grato ao Figueirense que está me dando essa oportunidade.
— Esse rótulo é bobeira. Não existe jogador de segundo tempo, isso acabou virando uma regra. Eu tinha que entrar e fazer os gols. E isso só me atrapalhou, pois tiveram jogos em que eu entrei e não fiz gol. Quer dizer que eu não servia mais? Faltou paciência.
 
Caio comemora gol do Botafogo sobre o Santa Fé (Foto: Wallace Teixeira/Agência Estado)Caio, ainda com a camisa alvinegra do Rio
(Foto: Wallace Teixeira/Agência Estado)
No Figueirense, você está mostrando um bom entrosamento com o atacante Aloisio. Na partida contra o Coritiba você deu duas assistências para gol, essa é a sua principal característica?
— No momento eu sou o artilheiro da equipe na Série A. Mas a minha função é de criar oportunidades para que o atacante possa fazer os gols. Mas sei que atacante vive de gols e mesmo que jogando mais pelos lados, sei que não posso desperdiçar oportunidades.
Essa vitória sobre o Coritiba pode dar um novo ânimo para o grupo, na luta contra o rebaixamento?
— Estava na hora da gente ganhar né!? Essa vitória significa muito, tirou um mundo das nossas costas. Foi apenas uma vitória, mas isso nos deu uma vida nova. O returno agora é uma vida nova. Sabemos quantos jogos temos que ganhar e é preciso ir um jogo de cada vez. O objetivo é tirar o Figueirense dessa situação, a gente viveu uma fase muito complicada em que jogávamos bem e não vencíamos. Mas agora que vencemos, sei que o time tem qualidade e vamos tentar bater o Náutico para deixar essa zona da degola de vez

A crise política, de alguma forma atrapalhou o grupo?

— Para ser bem sincero, não. Eu estou totalmente por fora disso e isso não interessa. O que eu tenho que fazer é jogar futebol e tirar o Figueirense desta situação. Eu soube que estava tendo uma confusão, uma briga, mas procurei deixar de lado. Só os jogadores que estão há mais tempo no clube é que estão mais por dentro do assunto.

Como foi chegar no Figueirense e, pouco tempo depois, poder ter ao seu lado o Loco Abreu? Você foi consultado antes dele ir para o Figueirense?
—  Ele tem um carisma, um jeito de líder que ajuda muito. É cara que está sempre aberto para dar conselhos, mesmo de fora. Para mim é maravilhoso poder ter ao meu lado um cara com a experiência que ele tem. E a gente têm uma relação bem legal, que ajuda muito. Antes de vir (para Florianópolis) ele me ligou perguntando como era o grupo, a cidade e o clube. Eu disse para ele vir.
Como está sendo a experiência de morar sozinho em Florianópolis?
— Eu estou morando sozinho. Mas está sendo legal, pois estou aqui para viver o futebol e é isso que tenho feito. Quando a saudade aperta, o pai e a mãe aparecem ou um telefonema já resolve. Mas eu fico mais com o pessoal do grupo mesmo. Eu costumo dizer que o grupo é a segunda família, pois passo muito tempo com eles. Está sendo muito bom.

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